Todo começo de ano, após as festividades, as pessoas começam a se preocupar com os ipês. Infelizmente, não se trata das bonitas flores das diversas espécies (Tabebuia e Handroanthus - IBF, 2023) dessa árvore nacional, que costumam florir no segundo semestre de cada ano, mas sim dos impostos que geralmente começam a ser cobrados da população logo nos primeiros meses do ano: IPTU, o imposto predial territorial urbano, a cargo das prefeituras e o IPVA, imposto sobre a propriedade de veículos automotores, a cargo dos governos estaduais.
Ipê Amarelo Florindo
Créditos: Freepik e Adobe Stock
Além destes impostos, outras despesas obrigatórias chegam em janeiro para pesar no orçamento: para famílias com filhos, matrículas nas escolas (ensino regular, idiomas, artes, esportes, dentre outras) e material escolar. Para quem é profissional liberal, as anuidades dos conselhos regionais de classe. Tudo isso somado às despesas de final de ano que, parceladas, continuam a aparecer no orçamento.
Nesse momento, tradicionalmente muitos se perguntam: o que fazer? Se você observou bem, eu disse que “tradicionalmente, muitos se perguntam”, pois esse fenômeno é cíclico, ocorre anualmente, e as pessoas parecem cair sempre na mesma armadilha: muitas despesas, pouco dinheiro, dívida na praça ou endividamento!
Esse contexto é resultado do que , normalmente, acontece nos finais de ano, um efeito que eu chamaria de “efeito riqueza”. Para os assalariados, a grande maioria da população, ocorrem dois pagamentos nesse período: o salário mensal e o 13º salário (pelo menos, a segunda parcela dele). E, na mente das pessoas acontece o seguinte: superestima-se a receita e subestimam-se as despesas, acreditando que haverá sobra para fazer frente ao conjunto das contas de janeiro, as normais e as extraordinárias. No entanto, por motivos diversos, isso acaba por não ocorrer e as pessoas entram em janeiro com a corda financeira no pescoço.
Você deve estar se perguntando: ora, porque as pessoas sempre cometem o mesmo erro de subestimar despesas e superestimar receitas? O assunto é complexo e mereceria uma séries de post apenas sobre ele. Mas, explicando sucintamente, a resposta está no que ensinou Daniel Kahneman, prêmio Nobel de Economia de 2002. Segundo ele, embora gostemos de pensar que sempre tomamos decisões de maneira racional, essa não é uma completa, pois temos, na mente humana, duas formas de pensar, a rápida, intuitiva e, portanto, emocional e a lenta, deliberativa e racional. Pelos atalhos evolutivos, muitas vezes, tomamos decisão não com a lógica, mas com a intuição. E, como a temporada de Natal e de final de ano é um período emotivo, na qual o comércio usa essa característica humana para nos convencer a comprar por meio do uso de luzes, cores, música, emoções, imitações e convencimento, o fato é que as pessoas compram e só depois, em janeiro, vão racionalizar as despesas efetuadas.
Desta forma, voltamos a questão, com o leite derramado, como agir? Para sanar a questão financeira, precisamos verificar a seguinte questão: existem reservas? Se existirem, por mais que doa, a melhor solução é lançar mão delas. O desconto ofertado para o pagamento à vista dos impostos é maior do que a remuneração ofertada por esse capital, esteja aplicado na poupança, no Tesouro Direito, no CDB, enfim, em qualquer aplicação de renda fixa. No caso da renda variável, sendo ela variável, dependerá da cesta de ações de cada um. Porém, mesmo assim, ainda compensa desmontar algumas operações para evitar o pagamento de juros. Para matrícula e material escolar, um pagamento à vista permite uma boa pechincha por bons descontos, então, não tenha vergonha de barganhar com o prestador de serviço. Para materiais, economize, aproveitando o possível, ensine ao filho um pouco de finanças pessoais convidando-o a trocar aquele caderno caro com imagens, por outro mais barato em troca de algo que ele deseja muito mais para o final do ano, no dia das crianças, talvez. Com isso, seu bolso ganha uma folga e você incute na criança a virtude da paciência e a percepção de valor das coisas.
E se não existirem reservas? Nesse caso, a solução é buscar pagar menos juros possível. Alguns impostos permitem parcelamento, caso do IPVA, do IPTU e mesmo das anuidades dos Conselhos de Categorias Profissionais. Você pagará juros devido ao parcelamento, mas serpa menor do que se utilizasse uma solução financeira de terceiros (bancos ou financeiras). Assim, utilize o número de parcelas que lhe permita ajustar, ao longo dos meses, a situação financeira. O mesmo para matrícula e materiais. Busque aproveitar o possível, faça pesquisa de preços para encontrar os melhores valores, pechinche sem medo e parcele “sem juros” (esse também é um assunto para outro post) o máximo possível. Lembre-se de que o objetivo, neste caso, é não ficar inadimplente e endividado em excesso.
Ah, não tenho cartão ou ele está no limite. O que fazer? Nesse caso, você pode emprestar de banco/financeiras ou de parentes. Não recomendo emprestar de parentes, pois sempre dá problema, e ambas as partes perdem o dinheiro e a amizade. Não recomendo emprestar de financeiras, pois elas costumam ser mais caras que os bancos. Não recomendo empréstimo com agiotas, pelos motivos óbvios. Então, se precisar de empréstimo, pesquise: não vá diretamente ao banco em que cliente. Veja nos outros banco o que conseguiria e com os resultados em mãos, negocie com o seu gerente um valor que cubra totalmente o valor faltante com prazos e valores adequados a sua realidade. Aja com cuidado. Não superestime a sua receita, faça com prazo maior para não se enrolar mais adiante. E, se sobrar valores e for possível, quite antecipadamente o empréstimo, pois é seu direito quando tem a quantia necessária para isso. Lembre-se de que o importante é equilibras as finanças.
Finanças equilibradas, pode-se pensar em fazer um antidoto para essa tradicional “armadilha dos ipês”: a partir do mês em que for começar, digamos maio, conte os meses até janeiro, inclusive. Considerando maio e janeiro, temos nove pagamentos. Pegue os valores correntes dos impostos e divida-os por nove. Guarde mensalmente. No próximo ano, você terá uma quantia armazenada para fazer frente a despesa com tranquilidade. Precisa de foco e força de vontade, pois imprevistos acontecem. No entanto, todo e qualquer valor poupado lhe será útil adiante.
É isso. Espero que esse texto tenha ajudado. Qualquer dúvida, entre em contato conosco. Um abraço!
Prof. Dr. Drauzio Antonio Rezende Junior
Referências:
Instituto Brasileiro de Florestas. Espécies de Ipê: conheça todos os tipos e cores. Blog IBF, 2023. Disponível em: https://www.ibflorestas.org.br/conteudo/especies-de-ipe-conheca-todos-os-tipos-e-cores. Acesso em 08/01/2023.,
Kahneman, Daniel. Rápido e devagar: duas formas de pensar. Rio de Janeiro: Objetiva, 2012.
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