Nos últimos anos, muitas pessoas se conscientizaram de que o mundo dos investimentos é bastante vasto e de que é possível obter maiores retornos do que aqueles entregues pela Caderneta de Poupança ou pelos títulos de renda fixa. E, assim, começaram a aparecer pela Internet afora, diversos comerciais que propõem rendimentos muito tentadores, geralmente prometendo retornos muito acima dos que se pode obter no mercado.
As propostas apelam sempre para a “ganância” do investidor, isto é, para aquele desejo de obter rápidos retornos com baixos investimentos em curtíssimos intervalos de tempo. E, quando os retornos não aparecem ou deixam de ser devidamente pagos, os investidores, as vítimas, muitas vezes se envergonham de denunciar, devido ao sentimento de perda ou receio de julgamento pelos outros.
Crédito: Freepik.com. Autor: Kues1.
O jornalismo da Record TV tem denunciado casos de “investimentos que deram errado” que chamam a atenção para a falta de cuidado dos investidores de entregar seus ativos para “gestores” sem analisar a empresa ou o profissional que se propõe a gerir tais ativos na busca de sua rentabilização. Não vamos analisar os casos concretos indicados pela Record TV porque a empresa de mídia já os apresentou e estes casos estão sob investigação. O objetivo aqui é conscientizar os possíveis investidores para alguns cuidados que precisam tomar antes de investir.
Em primeiro lugar, a primeira coisa que o investidor, ao receber uma proposta de investimento, deve fazer é: verificar se a pessoa que está fazendo a oferta tem habilitação para atuar nesse mercado. O profissional é um economista, administrador ou contador? É um agente autônomo de investimentos? Tem cadastro para atuar por meio de alguma corretora de valores? Possui autorização para gerir um clube de investimentos? Ou está, de algum modo, ligado a uma empresa da área?
Pois aqui podemos ter duas situações: um profissional de nível superior, formado na área financeira que atue como consultor ou assessor independente e não ligado a empresas de valores mobiliários. Nesse caso, ele pode dizer a você, com base na expertise dele, os tipos de investimentos mais adequados ao seu perfil, porém, ele não pode investir em seu nome, cabendo ao cliente o contato direto com o banco ou corretora para realizar, em nome próprio, os investimentos desejados.
A outra possibilidade é de este profissional ser contratado ou autônomo, mas ligado a uma corretora ou banco. Neste caso, ele assessora o cliente com base na empresa para a qual atua propondo o que existe na “prateleira” da empresa. Em corretoras, a oferta costuma ser maior, pois estarão disponíveis diversos tipos de investimentos de diversas origens e emissores (empresas ou bancos) com graus diversos de riscos, prazo de aplicação e possibilidade ou não de saque antes do prazo contratado. Quando o agente trabalha para um banco, geralmente esse agente possui disponível somente os produtos do próprio banco, mas a diversidade de produtos, prazo e graus distintos de qualidade persistem.
E clube de investimentos? O clube é a reunião de investidores. Pode ou não ter um gestor profissional. De todo modo, a montagem do clube necessita do suporte de uma corretora de valores e a documentação deste clube deve passar pelo crivo da CVM (Comissão de Valores Mobiliários).
Então, já conseguimos definir o primeiro cuidado do investidor para não cair em enrascadas: verificar as habilidades/qualidades de quem lhe propõe um investimento. E, em segundo lugar, verificar se este investimento está documentado/certificado ou regularizado.
Mas isso não é tudo. Há outra coisa que o investidor iniciante precisa entender. Como ensinou o economista italiano Vilfredo Pareto: “não existe almoço grátis”. Isto é, ninguém remunera acima do mercado se não existir um motivo muito forte para isso. Quando um título está pagando acima da média do mercado, é um indicativo de que a empresa está, por algum motivo, justo ou não, com a credibilidade abalada no mercado e não consegue se financiar a taxas normais, ela precisa pagar um “a mais” para que as pessoas aceitem financiá-la. Ou seja, aqui aparece a celebre definição: “quanto maior o retorno ofertado, maior o risco”. Se você quer ganhar mais, tem de aceitar a correr mais risco. A questão que fica para sua reflexão é: você pode correr esse risco? O que te aconteceria se desse errado, quais seriam as suas perdas? Outra análise, é possível ter um retorno similar no médio prazo correndo menor risco? Muitas vezes sim, por isso, o apoio de um assessor habilitado pode ser de grande ajuda na escolha da composição da carteira de investimentos.
Pode-se notar, então, que até existem investimentos que chamaremos de “corretos” que podem pagar taxas favoráveis, um pouco acima das médias do mercado, mas já sabemos que são investimentos com maiores riscos. Mas é impossível a existência de investimentos que paguem muito acima da média do mercado por muito tempo, pois não haverá condições de se manter a disparidade por muito tempo. Nesses casos, ao receber a proposta, tome muito cuidado. Casos assim, a experiência do mercado tem mostrado serem os famosos esquemas Ponzi, as pirâmides que enriquecem os primeiros da fila, os “golpistas”, as custas dos depósitos de valores que as outras pessoas fazem. O esquema perdura enquanto entram clientes, e, em algum momento, quando a entrada de clientes diminui, ele entra em colapso.
Esquemas de Ponzi só podem acontecer em “empresas não habilitadas no mercado financeiro”? Geralmente sim, mas não é regra. Infelizmente, já houve o caso de Bernard Madoff, que estava intimamente inserido na indústria de valores mobiliários, sendo dono de sociedade de investimentos. O fato é que a empresa de Madoff prometia pagamentos acima da média e como ele era bem conceituado, as pessoas não perceberam. Portanto, fica a dica: cuidado com retornos fáceis, rápidos e muito elevados. Podem ser indícios de não conformidade.
Outro erro é investir seguindo modinhas. Atualmente está na moda as criptomoedas que são moedas digitais que não possuem lastro de nenhum Estado soberano. Essas moedas como bitcoin, ethereum e outras, possuem valores astronômicos, com volatilidade (alterações bruscas de valor) imensas. São ativos digitalmente transferíveis e difíceis de rastrear. A questão é que investimentos nesses ativos não ofertam a você nenhuma proteção, caso algo venha a dar errado. Para a grande maioria das pessoas comuns, é um ativo altamente especulativo e, por isso, inadequado para reservas.
Nesse ponto abordamos outro problema sério das pessoas que querem investir: o desconhecimento do investimento a ser feito. Muitas pessoas investiram em criptoativos sem conhecer o conceito, o funcionamento e as formas de lidar e proteger esses criptoativos. Nesses casos, ficam totalmente dependentes do agente intermediário desses ativos que, muitas vezes, não tem habilitação para atuação na distribuição de valores mobiliários no Brasil. E, em caso de problemas, a única proteção é a Justiça que terá dificuldades de rastrear esses valores pela própria estrutura conceitual dessas moedas. E, também, pelo fato de esses agentes estarem no exterior. Portanto, quer investir em criptoativos? Procure uma empresa corretora habilitada no Brasil, certificada e de renome que atue nesse ramo aqui. A garantia será maior.
A questão do desconhecimento, infelizmente, não ocorre apenas no caso de ativos digitais. O Brasil enfrentou outros problemas oriundos de investidores que aplicam em propostas sem conhecê-las. Cito, de memória, o investimento em engorda de boi e em criação de avestruzes que, infelizmente, deram errado. Independentemente da proposta, o investidor precisa saber as características do investimento. Exemplo: é uma debênture? Então, você estará emprestando para uma empresa. Busque saber qual é a empresa, o grau de credibilidade dela e como está a empresa no momento. Vai investir no Tesouro Direto? Você emprestará ao Governo Federal. Veja a situação das contas públicas e como o governo está lidando com o aspecto fiscal e inflação. Vai comprar ações? Verifique a situação da empresa, veja o comportamento dessa ação nos últimos tempos. Vai adquirir CDB - Certificado de Depósito Bancário? Você emprestará ao banco emissor. Se adquirir LCA - Letra de Crédito do Agronegócio, financiará o setor rural. Enfim, acredito que você conseguiu entender.
Não é difícil acompanhar os investimentos, pois existem analistas que acompanham os fundamentos dessas empresas e das aplicações. Se você investe por uma corretora ou banco, geralmente é disponibilizado algum material aos clientes. Leia e se informe!
Crédito: Freepik.com. Autor: Kues1
E finalizamos esse artigo com a mensagem de que ao investir, busque sempre ter o máximo de informações a respeito. Você é o maior interessado e ninguém terá maior interesse nisso do que você mesmo! Pesquise, confira as informações que foram passadas, compare. Não se deixe levar pela potencial “ostentação” do propositor do investimento. Verifique se ele tem habilitação e autorização para atuar na área. Tome cuidado para não perder o dinheiro que você ajunta com tanto esforço!
Prof. Dr. Drauzio Antonio Rezende Junior
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